Esperar ou não esperar...

"Sim, deve ter havido uma 1ª vez, embora eu não lembre dela, assim como não lembro de outras vezes, também primeiras, logo depois em que nos encontramos completamente despreparados para esse encontro.

E digo despreparados porque sei que você não me esperava, da mesma forma como eu não esperava você."

Eu quero tudo.

"Fala, fala, fala. Estou muito cansado. Já não identifico nenhuma palavra no que diz. Apenas me deixo embalar pelo ritmo de sua voz, dentro dessa melodia monótona angustiada perplexa repetitiva. Quase três da manhã. Não temos aonde ir, nunca tivemos aonde ir. Um nojo, vezenquando me dá um asco
— nojo é culpa, nojo é moral
— você se sente sórdido, baby?
— eu tenho medo, não quero correr riscos
— mas agora só existe um jeito e esse jeito é correr o risco
— não é mais possível — vamos parar por aqui
— quero acordar cedo, fazer cooper no parque, parar de beber, parar de fumar, parar de sentir
— estou muito cansado.
— não faz assim, não diz assim
— é muito pouco
— não vai dar certo
— anormal, eu tenho medo
— medo é culpa, medo é moral
— não vê que é isso que eles querem que você sinta? medo, culpa, vergonha
— eu aceito, eu me contento com pouco.
— eu não aceito nada nem me contento com pouco
— eu quero muito, eu quero mais, eu quero tudo. Eu quero o risco, não digo. Nem que seja a morte."

(in Anotações sobre um amor urbano)

Para o dia de mudança...

"Antes de me pôr a caminho, abro devagar e completamente os braços para depois fechá-los arredondados, tocando suavemente as pontas dos dedos de uma das mãos nas pontas dos dedos da outra. Como se faz para abraçar uma pessoa. Mas não há nada entre meus braços além do ar da manhã. Suspiro, sorrio, desfaço o abraço.
Então, com as mãos vazias, finalmente começo a navegar."

Memória

"A memória da gente é safada: elimina o amargo, a peneira só deixa passar o doce."

Deus vê tudo

"Mas Deus, lá em cima, está vendo tudo. O problema é que Ele esqueceu de pôr os óculos."

Caminhos

"Compreendo tudo que você diz. São coisas que me digo, também. Mas há uma diferença entre você saber intelectualmente da inutilidade das procuras, da insaciabilidade — vixe, que palavra! — do corpo e conseguir passar isso para o seu comportamento — tomar ato o que é pensamento abstrato. Os caminhos são individuais/intransferíveis."

Sinto falta

"Sinto falta daí. Me digo que na verdade sinto falta do colo, do conforto, do útero. E que devo ficar por aqui. Então tenho que ser forte, tenho que me exercitar em autocontrole. Claro que me pergunto pra-quê? — e claro que não tenho resposta. Mas vou atravessando os dias, a casa muito vazia, às vezes dói. (...)"

Fica bem.

"Não quero ser dono da verdade, mas aprendi algumas coisas nesses anos — pode parecer ambicioso, mas de repente gostaria de ajudar a transformar este mundo numa coisa melhor. Para isso, tento ficar bem (...)"

Proximidade distante

"Uma pessoa quando tá longe vive coisas que não te comunica e tu aqui vive coisas que não comunica a ela. Então vocês vão se distanciando e quando vocês se encontram, vocês vão falar assim: oi, tudo bom e tal, como é que vão as coisas? E aí ele vai te falar por cima de tudo o que ele viveu e, não sei, vai ser uma proximidade distante. Não adianta, no momento que as pessoas se afastam elas estão irremediavelmente perdidas da outra."

Novembro.

“Quase novembro, a ventania de primavera levando para longe os últimos maus espíritos do inverno, cheiro de flores em jardins remotos, perfume das primeiras mangas maduras, morangos perdidos entre o monóxido de carbono dos automóveis entupindo as avenidas.”

Continuar...

"Nós nos inventamos um ao outro porque éramos tudo o que precisávamos para continuar vivendo."

Confesso

Confesso! As vezes tenho vontade de sair por ai destruindo corações, pisando em sentimentos alheios ou sei lá, alguma coisa que me faça realmente merecer esse meu sofrimento no amor.